domingo, 16 de maio de 2010

Seleção diferenciada
Quem trabalha em Recursos Humanos sabe muito bem que uma das grandes preocupações da área é o recrutamento e a seleção de profissionais qualificados e que agreguem valor ao negócio. Se um processo seletivo tradicional já não é uma tarefa fácil, imagine quando esse envolve um público como portadores de necessidades especiais. Isso ocorre porque nem todos os selecionadores estão qualificados ou se sentem realmente aptos para realizar esse trabalho e, como conseqüência, acabam contratando um profissional que não se enquadra ao perfil da vaga disponível. Foi pensando nisso, que a Transportadora Rodonaves resolveu investir na qualificação da área de RH.
Em novembro de 2005, a transportadora Rodonaves completa 25 anos de existência. Presente nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e no Distrito Federal, a organização conta com uma frota de 800 veículos. A empresa é uma das maiores empregadoras de Ribeirão Preto, com 664 colaboradores na matriz. Em todas as unidades e filiais, gera mais de 2,5 mil empregos diretos e indiretos. Em 2004, a Rodonaves apresentou um crescimento de 38%, resultado da expansão dos negócios, do investimento em capacitação de seus colaboradores e da abertura de novas unidades.
Um desses investimentos começou no início de 2005 e teve como principal objetivo qualificar a área de RH para realizar um estruturado processo de recrutamento e seleção de portadores de necessidades especiais (PNE). Segundo Eloá Biotti, analista de RH da Rodonaves, a iniciativa de treinar o RH nesse campo específico também surgiu porque a empresa está passando por um processo interno, onde os PNE serão selecionados para assumir funções na organização.
"Não queremos contratar os portadores de necessidades especiais apenas para cumprir uma cota e praticar assistencialismo. Queremos recebê-los de forma planejada para que se sintam capazes de atuar no mercado de trabalho", ressalta, ao acrescentar que a proposta da Rodonaves é de inclusão social, mas para isso é preciso receber esse público de acordo com suas potencialidades produtivas. Com isso, a empresa pretende quebrar preconceitos internos e, ao mesmo tempo, estar preparada para exigir produtividade de todos, com uma empresa faz com qualquer outro colaborador.
Para capacitar a área no processo de recrutamento e seleção de PNE, o primeiro passo da empresa foi escolher uma analista de RH, que atuava direto em R&S, para participar de um curso externo. Depois disso, a área de Recursos Humanos fez algumas adaptações das metodologias já existentes no mercado para atender às próprias necessidades e, com isso, o profissional treinado passou a atuar como um multiplicador interno. Agora, esse treinamento é realizado junto às gerências de cada departamento, para que esses multipliquem a experiência para as equipes de trabalho.
Vale ressaltar que o curso voltado para R&S de portadores de necessidades especiais possui um conteúdo muito amplo, incluindo o estudo das leis e suas implicações legais. Além disso, são abordados aspectos práticos da contratação, que nada mais é que a adaptação dos portadores nas funções e nos departamentos onde irão exercer suas atividades. Eloá Biotti chega a destacar que os portadores, geralmente, têm problemas em sua adaptação, pois enfrentam preconceitos e barreiras desde o começo de suas vidas. Por conta disso, muitos contam com curto tempo de estudo e, por conseqüência, pouca qualificação profissional.
"Nosso curso é voltado para o entendimento dessas questões e, diante disso, para a procura de cargos onde existe possibilidade de adaptação, para investimento interno direcionado à qualificação dessas pessoas e para o trabalho de preparar os colaboradores do mesmo departamento, a fim de que esses possam receber os portadores de necessidades especiais e, nesse caso, estamos falando de quebrar paradigmas e preconceitos", explica a analista de Recursos Humanos.
Quando questionada sobre o diferencial existente entre um processo seletivo tradicional e um realizado para selecionar um portador de necessidades especiais, Eloá Biotti, afirma que normalmente a empresa procura fazer o processo o mais próximo possível dos que são realizados com os demais colaboradores da empresa. No entanto, um cuidado torna-se indispensável: checar o tipo de deficiência apresentado, pois em alguns casos acontece a impossibilidade do desempenho em determinadas funções da empresa.
Sobre as ferramentas utilizadas na seleção de PNE, a analista de RH da Rodonaves comenta que são utilizados os mesmos recursos dos demais processos seletivos. Dentre esses, ela cita as dinâmicas de grupo e os testes psicológico e situacional, com algumas poucas adaptações. E exemplifica que para os portadores de deficiência auditiva, o selecionador aplica uma atividade como montar um produto, porque nesse caso não é possível pedir para as pessoas fazerem uma apresentação. "Assim, vamos adaptando nossas ferramentas para esse tipo de recrutamento e seleção. Além disso, nossa idéia é colocar alguns profissionais de R&S para aprenderem a linguagem dos sinais. Inclusive, já estamos procurando alguns cursos com essa finalidade", afirma.
Apesar de ainda estar no início o curso já começa a apresentar resultados, pois ao abordar o tema a área de RH percebe que existem conceitos enraizados e errados sobre os PNE. Ela reforça que todos que integram a empresa precisam se adaptar à convivência tanto quanto eles, os portadores, necessitam se acostumar com o convívio num mundo muito pouco preparado para recebê-los.
Sobre as vantagens de se contratar portadores de necessidades especiais, a analista de RH da Rodonaves diz que as empresas sabem que existe uma lei que as fazem admitir esses profissionais (Lei de nº 8.213/1991 - determina que empresas, com mais de 100 funcionários, devem destinar 2% de suas vagas aos portadores de necessidades especiais). No entanto, as organizações podem cumprir essa exigência de forma adequada, sem assistencialismos, que normalmente tornam essas pessoas improdutivas, prejudicando a empresa e a inserção correta no mercado de trabalho. Por outro lado, quando existe uma contratação realizada de forma correta, e a inclusão dos portadores acontece de maneira produtiva, estão sendo quebradas barreiras. "Isso aumenta a socialização dessas pessoas na comunidade, pois o trabalho é um meio de convívio e afirmação social", resume.
Os benefícios - Ao ser perguntada sobre os benefícios que a contratação de portadores de necessidades especiais traz à Rodonaves, Eloá Biotti, cita uma experiência bem positiva vivida pela empresa e que foi um incentivo para a continuidade do curso. No transbordo, setor de carregamento e descarregamento de caminhões, há alguns portadores de deficiência auditiva e o desempenho desses chega a ser superior ao dos demais trabalhadores. Isso porque eles são mais atenciosos na conferência da carga. Esse tipo de situação trouxe conseqüências muito positivas, como o reconhecimento dos colegas de trabalho e dos superiores. Dessa forma, a empresa reforçou a visão de que é necessário encaixar os portadores de acordo com suas limitações naturais e de uma maneira em que possam se mostrar produtivos. "Isso é bom para a empresa, bom para a inserção, a sociedade e para o fortalecimento da auto-estima dessas pessoas", finaliza, ao acrescentar que além do transbordo, os PNE também atuam em RH e no Centro de Processamento de Dados da companhia.
Patrícia Bispo

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